19.5.09

Às voltas com o caso da professora suspensa...

Ainda estou banzado com o caso noticiado pela SIC (aqui), ontem, 18 de Maio. Seria fácil construir um conjunto de comentários de café de vila, como os que encheram o blogcosmos (durante a noite) e encherão os cafés de vila (durante o galão e bolo desta manhã). Mais difícil é não descrever mas explicar, a sensação no estômago que se foi instalando enquanto ouvia excertos elucotórios da referida personagem (porque para aquilo ser uma aula - como foi dito - faltava a sua condição mais básica: uma relação professor-aluno equilibrada por "um querer fazer qualquer coisa juntos" num espaço-tempo de aprendizagem e desenvolvimento).
Dada a teimosia da permanência da sensação, mesmo depois de algumas horas de sono, decidi-me a ultrapassar a fase simplista do "passou-se! Caso clínico para os pros das terapias" para a fase mais complexa da auto-indagação: Como é possível que o meu estômago ainda reaja assim, ao fim destes anos todos? Quais as balizas de que problemática(s) ajudarão a explicar esta naïveté de professor em indução profissional, com mais de 30 anos de profissão?
Galguei de imediato quadros conceptuais vários que me eram suscitados pelo objecto da reflexão (o caso da professora) e o sujeito da reflexão (eu-próprio ou talvez mim): reality shock (clivagem entre expectativas e realidade observada); dissonância cognitiva (clivagem entre o saber e a inadequação contextual ao exercício do saber-fazer) e uma das usas mais conhecidas consequências - o burnout; finalmente o choque cultural, na sua (minha) fase de negação ou recusa da realidade observada.
A multi-dimensionalidade da abordagem necessária e o número de variáveis são potencialmente perturbadoras. Embora os resultados sejam simples: "passou-se! Caso clínico para os pros das terapias".
Como chegou lá (seja qual for o sítio a que chegou) acho que deveria ser motivo para pararmos para pensar. Porque a distância que, neste caso separa o real pedagógico (hahaha) do real pedagógico desejável é tão grande, que não pode ter sido ultrapassada apenas de um salto, apenas num momento. Muitos saltos e muitos momentos depois do início de um processo de que nem a auto nem a hetero-regulação conseguiram impedir o desenvolvimento. E esta é uma das dimensões dos processos trágicos.
Interrogo-me sobre a inevitabilidade deste percurso...

Mais perguntas:
"Onde estiveram os colegas durante este tempo todo?"
"Onde estiveram os pais, este tempo todo?"
"Onde esteve a Organização, este tempo todo?"
"Onde estiveram o Currículo e o Desenvolvimento Curricular, este tempo todo?"
"Para onde foi indo, com que conivências, durante este tempo todo, a menina-mulher que um dia decidiu que queria ser professora?"
"E agora, que vamos fazer com o que resta dela? Prisão? Aterro sanitário? Compostagem?"

Um bom dia a todos. Tenho que ir para as aulas onde estão alguns jovens, que (ainda) querem ser professores.

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